sexta-feira, 9 de novembro de 2012

De um amigo para o outro


Chego na sua casa de mansinho, um pouco assustado. Afinal, ainda sou frágil e pequeno, mas sinto que já posso confiar em você.
Olho tudo a minha volta. Seu quintal, seu carro, suas plantas... sua sala, seus móveis, cozinha... seu quarto, sua cama e o tapete que fica ao lado.

Então, você me oferece água, leite e comida. Meio desconfiado, aceito.
Hummmm! Que fome!
Hey, por que você está aí me olhando? Tem um brilho no seu olhar... está sorrindo... está feliz, não é mesmo? Acho que agradei!

Assim que termino, você me leva para um cantinho, no seu quintal. Um cantinho com sombra, perto de uma árvore bonita.
Tem uma casinha super legal com meu nome. É pra mim? Oba!
Olha... tem uma bola lá dentro! Vamos brincar? Vamos brincar?

À noite, sua mãe diz que eu tenho que ficar aqui no meu cantinho.
E você? Vai para o seu quarto? Vou ficar aqui sozinho? Quero brincar mais! E a minha mãe? Quero minha mãe... Ou, já que ela não está aqui, quero você!!

Choro. Choro, choro e choro!
Sua mãe fica brava. Seu pai diz que vai me mandar embora. Os cachorros dos vizinhos começam a latir. E você vem, praticamente dormindo em pé, me pedir para ficar quieto, senão não poderemos ficar juntos.
Mas espere, aonde você vai? Não estamos ficando juntos assim... Volta!

Amanhece. Tomo meu café, que já está ao lado da minha casinha e vou a sua procura.
Você está tomando café também, mas apressado. Faz um carinho em mim e diz "até mais tarde".
Hey, volta aqui, vamos jogar bola????

O pai também sai e a mãe fica pra lá e pra cá, fazendo coisas em toda a casa.

Bom, o que vou fazer??? Já sei, vou explorar a casa.

Na sala tem umas coisas legais. Um sofá fofinho, uma mesinha que dá para pular em cima, várias revistas pra rasgar.
Espere! O que é isso? Olha... que imagens legais! Olha... muda!
Opa! Outro? Quem é você? Como entrou aqui? Essa casa é minha! Saia já!

Mais tarde, descubro que isso se chama TV e é bem legal!

No banheiro tem mais água! Já sei onde ir quando a minha acabar.

No quarto do pai e da mãe tem uma cama enorme e umas roupas penduradas em um negócio marrom. Super legal! Mas algo me diz que vou arrumar encrenca se brincar aqui.

Enfim no seu quarto.
Oba! Aqui é legal! Uma cama fofa, um tapete quentinho, vários brinquedos... e olha o que tem aqui! Chinelo! Hum, gostoso!

E no quintal? Ah, no quintal... sombra, sol, árvores, plantas... muitas plantas!
Roupas penduradas no varal. Hey, vocês querem brincar de pega-pega? Há, peguei vocês!
Borboletas e passarinhos voando. Corro atrás de todos eles, mas eles fogem... e eu só quero brincar!
E à noite gosto de fazer xixi nas rodas do carro. É da hora! Haha!

Quando você está aqui, brincamos bastante.
Às vezes, fico com você, no seu quarto, enquanto você estuda.
Também assistimos TV juntos e passeamos no parque aos Domingos, pela manhã.

Mas, às vezes também, você inventa de me dar banho. Disso eu não gosto muito, não!

Protejo a casa. Não deixo ninguém entrar. Nem o carteiro! E muito menos o entregador de pizza! Ele nunca me traz um pedaço.
Protejo você, a mãe e o pai. E sempre vai ser assim, até mesmo quando eu ficar velhinho.

Cresço. Fico grande e forte.
Já não choro mais à noite, mas sempre conto os minutos para estarmos juntos de novo!

E essa é nossa rotina.
Na verdade, não existe esse negócio de rotina pra mim. Todo dia aprendo ou invento alguma coisa nova.
A única coisa que eu sei que não muda é o seu amor por mim. E o meu amor por você. Você é meu melhor amigo e sei que eu sou seu melhor amigo também! E sempre vai ser assim, até mesmo quando eu ficar velhinho.

Como disse, um dia vou ficar velhinho. E você também.
Um dia, terei de partir. E você também.
Talvez isso aconteça comigo primeiro. Talvez aconteça com você primeiro.
Quem vai saber?

Quando você ficar velhinho, vou cuidar de você. Vou te levar comida, te lembrar dos remédios, te fazer companhia, não deixar você cair e te levantar quando for preciso.
E quando você partir, vou sempre te esperar, mesmo que você não volte. Até o dia da minha partida.

Quando eu ficar velhinho, sei que vai cuidar de mim. Você vai me alimentar, me aquecer, me dar remédios, vai brincar comigo do que eu ainda puder brincar, vai fazer muito carinho em mim.
E quando eu partir, talvez você nunca mais tenha outro no meu lugar. Ou talvez você tenha e isso é legal! Mesmo assim, sei que você nunca vai me esquecer.

E eu também nunca vou te esquecer!

Porque, depois do amor de Deus e do amor de mãe, o meu é o mais fiel, sincero e incondicional que existe. Aqui na Terra, não existirá amor igual!

Enquanto o dia das partidas não chega, quero aproveitar, aproveitar e aproveitar muito cada minuto com você. Cada minuto, cada hora, cada dia, cada mês e ano. Cada brincadeira, cada carinho, cada bronca, cada passeio e até cada banho! Tudo!

E pensar que tem gente que não gosta de cachorro...

E se tem cachorro que não gosta de gente, há sempre um motivo...